Busca Insensata

Buscando a si mesmo fora de si o ser se perde, se aliena, se escraviza... Retira de si mesmo o poder por sua jornada, se descontrola, enlouque. Diante da imensidão da vida, somos ainda menores que um grão de areia na praia ou no fundo do oceano... Somos poeiras cósmicas, incapazes de compreender nossa real dimensão no Universo. Porque enlouquecer desvelando a Vida, quando ainda há tanto do próprio ser a ser desvelado?

domingo, janeiro 30

Simplicidade


Algumas coisas são ditas melhores nas palavras de quem as escreveu/disse primeiro:

"Uma das formas de se exercitar e praticar a simplicidade é não criar expectativas antes dos eventos, não complicar as coisas durante os acontecimentos e não remoer algo que já passou".
Quem vive premeditando, com a expectativa aumentada, perde a simplicidade e a paz interior.
Quem é incapaz de solucionar as coisas com objetividade tende a complicar, acrescentar, inventar, transformando uma coisa simples em algo abslutamente complexo e insolúvel.
Por fim, quem se prende ao passado desperdiça o presente e, por conseguinte, compromete o amanhã.

(Mestre Wu Jyh Chern, Iniciação ao Taoísmo, V.1)

sexta-feira, janeiro 28

Escolhas e Destino


Pensar na sucessão de eventos que compõem nossas vidas e nas co-incidências que os conectam sempre levanta a pergunta: Seria o destino? Ou coincidências existem? Se for o Destino, temos algum controle sobre ele? Estava escrito nas estrelas que eu teria uma ótima pessoa como companheiro e ótimas pessoas como meus filhos? Ou foram nossas escolhas, que se cruzaram de repente, e passaram a estar ligadas umas nas outras? Ou ainda, uma terceira alternativa: Seria o Destino E nossas escolhas?...
Para o Taoismo, Destino não é sinônimo de eventos pré-determinados antes de nascermos. É, antes de tudo, nossa própria vida. No momento em que chegamos ao mundo, temos que seguir com nossas vidas: as relações que construímos, as atividades que desempenhamos, os papéis que interpretamos... Não importa que esta vida dure uma hora ou 100 anos, é o nosso destino e precisa ser cumprido.
Há meios e meios de executar e finalizar uma tarefa. Se a nossa vida é uma sucessão de momentos pelos quais precisamos passar, como fruto de escolhas nossas e das pessoas a quem estamos ligadas, também há nesse caso diferentes caminhos. Existem os caminhos da esperança; da serenidade; da perseverança; da sabedoria; do amor; da paz; da amizade; do respeito; da honestidade, da coragem... também existem os caminhos da força bruta, da violência; do medo; da raiva; da culpa e do remorso...
Entre esses, existem também aqueles outros que são uma espécie de meio termo... É preciso mencionar pelo menos a sua existência, para não negar a complexidade da Vida. Mas a grande pergunta é: Que caminhos escolhemos percorrer para encontrar o nosso Caminho?
Os mestres taoístas dizem que não precisamos descer ao infernopara chegar ao céu. O que issos significa? Que embora exista o sofrimento, não necessariamente precisamos sofrer. Sempre existe a escolha de seguir nossas vidas com leveza, fazendo escolhas e agindo com com base no respeito e cuidado em relação a nós mesmos e aos outros especialmente em relação aos seus sentimentos. É claro que em um momento ou outro vamos tomar algumas decisões erradas, mas a melhor maneira de concertar nossos erros e aprender com eles é examinar os passos dados até aquele momento e pensar o que poderíamos fazer diferente se fosse possível. Mais importante ainda que isso é saber perdoar os outros e a si mesmo, de forma que possamos seguir em frente, determinados a acertar da próxima vez. Para que ficar remoendo os erros e recriminado os outros pelas escolhas ruins que fizeram? O que ganhamos com isso?
Como todas as lições que venho aprendendo, são tarefas dificílimas de executar, mas ao conseguir, teremos menos culpa a pesar sobre nossos ombros e mais oportunidades de desfrutar os pequenos momentos de felicidade que a vida nos oferece, construindo dessa forma um Destino mais iluninado...

sexta-feira, janeiro 21

Oração da Serenidade



Na última postagem me lembrei da Oração da Serenidade. É uma das orações mais belas que já ouvi e está de acordo com o que venho pensando e sentindo nos últimos tempos. Apenas para situar as pessoas que eu já conheço: eu sou agnóstica, mas não sou prepotente e pretensiosa de afirmar categoricamente que a vida é só o aqui e agora... Além disso, como escrevi em outras postagens, eu penso a Vida e o Universo com aquilo que me transcende e que é maior que meus desejos e sonhos particulares. Então, improváveis leitores, ao ver "Deus", leiam "Vida":


Oração da Serenidade
Deus,
dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa, e sabedoria para que eu saiba a diferença:
- vivendo um dia a cada vez, aproveitando um momento de cada vez;
- aceitando as dificuldades como um caminho para a paz;
- indagando, como fez Jesus, a este mundo pecador, não como eu teria feito;
- aceitando que Você tornaria tudo correto se eu me submetesse à sua vontade para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e extremamente feliz com você para sempre no futuro.

quinta-feira, janeiro 20

O Vale e o Rio


Após a chegada das crianças m nossa casa e em nossas vidas, passei a experimentar um turbilhão de emoções, das mais variadas formas. Me sentia tragada por um furacão, levada por uma força que eu não podia controlar. Essa nova situação me fez perceber o quanto eu estava (e ainda estou) desorientada em minha própria vida.
Antes de as crianças chegarem, durante uma viagem a São Paulo fui conversando com uma grande amiga sobre a Vida, o Universo, nossas existências... Ela me contou que certa vez começou sua iniciação no Budismo e nessa conversa percebi que muito do que eu já pensava sobre a Vida coincidia muito com as filosofias orientais. Corta. Eu não lembro mais como foi e quando foi, exatamente, mas me deparei com uns vídeos (eu acho) sobre o Taoísmo. Me interessei muito pelas coisas que ouvia nesse material e passe a aprofundar um pouquinho sobre o assunto e nessa busca encontrei alguns princípios que vem me ajudando.
Um dos princípios é a afirmação de que a Vida é, ao mesmo tempo, simples e complexa.
É simples por que segue o rumo dado pelo Universo, pela Natureza, com seus ciclos de mudança e renovação. Segundo o Taoísmo, Ela poderia ser comparada a um grande rio, que é fluido e tem seu caminho direcionado pelo leito, em direção ao Mar. Os eventos que compõem cada vida particular são movimentos da própria Vida que, encadeados harmonicamente, formam um Grande rio, que corre pelo Vale da Natureza em direção ao Absoluto (Tao). De acordo com os princípios taoístas, um dos primeiros passos para a Iluminação é aceitar a nossa pequenez diante do Universo e da Vida e aceitar as oportunidades e também os desafios "oferecidos" por estas "entidades".
A complexidade da Vida pode ser percebida pela conexão entre os diversos elementos e eventos que a compõem. Estamos todos conectados e nossas ações e escolhas tem repercussões na existência dos outros seres. Algumas dessas conexões estão ao nosso alcance e temos algum grau de controle, mas a grande maioria dos pontos dessa rede não está em nossas mãos. Essa perspectiva da vida nos apresenta um aparente paradoxo: aumenta nossa responsabilidade, mas diminui nosso poder de controle. Dá um medo... No entanto é um medo passageiro, como a desorientação diante de uma luminosidade após muito tempo no escuro; como cair em um poço sem fundo. (Eu ainda estou com medo, só para esclarecer).
Nesse ponto dos meus devaneios voltamos novamente para o primeiro passo da Iluminação: aceitar a Vida em seus próprios movimentos... (Lembrei da Música "Epitáfio" interpretada por Roberto Carlos e posteriormente pelos Titãs). É difícil conquistar esse grau de aceitação (eu estou muito longe disso, embora eu estja buscando).

É necessário muita sabedoria e serenidade. Por alguma razão (não tão desconhecida) me lembrei da Oração da Serenidade.

quarta-feira, janeiro 19

Todas as pessoas grandes foram crianças um dia. Mas poucas se lembram disso (Saint Exupèry)



"O Pequeno Príncipe", de Saint Exupéry, é uma história que me fascina e emociona a cada leitura. Toda vez eu aprendo algo muito, muito, muuuuuuiiiito importante. A última foi quando a li para meus filhos, antes de dormirem. Desta vez aprendi que quase todos nós lembramos apenas o lado bom da infância, mas pouquíssimos de nós lembramos também dos medos e das angústias de ser tão pequeno em um mundo dominado por pessoas grandes.
Ser mãe tão de repente me colocou diante de muitos e imensos desafios, mas o principal foi compreender os sentimentos de meus filhos. Tem muita coisa que ainda não entendo e muitas que eu acho que nunca vou entender. No entanto, pude perceber com essa experiência e com o Pequeno Príncipe, que nunca compreenderemos as crianças sem nos aproximar e conquistar sua confiança: "A gente só conhece bem as coisas que cativou". As melhores experiências com meus filhos foram quando me aproximei, brinquei, beijei e abracei. Foram quando, entre um abraço e um beijo, olhei nos seus olhos e disse-lhes o quanto os amo e quanto iluminam minha vida.
Por outro lado, os piores momentos foram aqueles em que me colei no pedestal da "maturidade" e me esqueci de como é ser criança, impondo, com ordens e sem explicação alguma, regras e rotinas. (Em outras oportunidades espero escrever sobre como as regras e rotinas também são importantes.)
Foram nesses momentos, após ter passado a minha fúria diante de manhas, birras e teimações, que eu me senti mais culpada ao perceber o quanto fui responsável pela tensão e ressentimentos. Foram (e são) esses mesmos momentos, ainda que estejam rareando e tornando-se menos intensos, aqueles em que percebi o quanto estou perdida e deslocada, cambaleando na corda bamba da Vida.
Eles são mais luz na minha vida e EU SEI (Vida, como eu sei!) que boa parte do próprio caminho que seguirão depende de como nossa relação será construída e do respeito que eu conseguir imprimir nesse jogo interacional, aqui e agora. É pelo bem dos meus filhos que preciso me encontrar e aprender a viver com mais serenidade e sabedoria...

terça-feira, janeiro 18

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma /Até quando o corpo pede um pouco mais de alma/ A vida não pára... (Lenine)



Preciso reencontrar (ou seria encontrar?) o meu ponto de equilíbrio. Não estou em busca de uma doutrina espiritual, pois não creio que eu tenha perdido o sentido místico durante a minha crise religiosa. Eu ainda sinto que existe algo muito maior que eu e que transcende meus desejos e sonhos particulares: a Vida e o Universo. A mudança, a renovação, a imensidão e a estabilidade (por favor, não confundir com rigidez) presentes no Universo e na Vida que o permeia são, no meu entendimento, as provas da transcedência que podemos encontrar neles.
No entanto, nos últimos tempos tenho me sentido desligada disso tudo. Parece que estou longe do meu próprio tempo e do espaço... e eu sofro por isso. Quero me sentir conectada ao Universo e à Vida novamente, para que a minha própria existência, ínfima como um grão de poeira cósmica, possa se fortalecer e, assim, eu consiga aceitar com sabedoria e paciência os eventos que essas Entidades me "apresentam".
Também venho sentindo falta de compartilhar o que penso e sinto sobre a vida cotidiana, sobre as belezas e angústias da Vida e sobre as relações que construímos enquanto passamos pela Terra. Sinto, ao compartilhar minhas ideias, ao transformá-las em palavras escritas, que elas passam a fazer um pouco de sentido.
Por isso voltei a esse espaço: para escrever um pouco da minha nova viagem em busca de uma conexão, embora eu queia curtir muito o caminho, as paisagens que essa jornada me oferece e nem tanto o "destino"... Pois o sentido de nossa existência e a felicidade estão no próprio caminhar, no cotidiano, e não no final dele.
Enquanto isso a Vida segue.